A história da educação ( uma reflexão)
Iniciando
o estudo da história da educação no Brasil, pela Univesp, curso de Pedagogia,
nos foi proposto um exercício simples e um tanto reflexivo, entrevistar pessoas
de diferentes idades sobre o tempo de escola, para descobrir como era a
estrutura escolar antigamente e comparar com o avanço já conquistado
atualmente. Confesso que fiquei perplexa com os resultados alcançados. Sim, eu tinha noção
de como o sistema era falho e de como a estrutura escolar, conhecida hoje em
dia, era praticamente inexistente, mas o que
me tortura nessa história, não é o passado, portanto o presente.
Deixando
minha impressão de lado por um instante quero contar a vocês a história da Dn. Cidelina da
Silva Dias, mineira, nascida e criada no interior da cidade de Mendes Pimentel,
possui hoje 74 anos, não frequentou uma escola, pois não existiam
escolas físicas (prédios, colégios) em sua cidade, começou a estudar de fato
entre 8 e 10 anos, estudou em casa com uma professora particular,
que seu pai pagava com muito esforço,
essa professora utilizava um cômodo da cada do pai de Dn. Cidilina, como
escola para ela e para seus vizinhos, todos da mesma idade. A professora era extremamente
rigorosa, tanto que, até praticava de
castigos físicos para educar. Nas aulas era ensinado apenas a ler e escrever de
modo repetitivo e memorizado. "Gostava de ter aula com esse professora"- confessou ela. Largou
os estudos depois de casar, logo em
seguida veio morar em São Paulo. Já com uma filha pequena, decidiu frequentar em um curso do EJA
descobriu que tinha conhecimentos até o nível de quarto ano (quarta série
ensino fundamental I), porém não quis
continuar os estudos para se dedicar a
família e a casa.
O que você identifica nessa historia? Quem é o professor aqui? Qual o papel dele?
Já
com 50 anos a baiana Maurina Gomes Silva, foi um pouco diferente, nascida no interior de sul da Bahia, começou
a estudar com 10 anos, e nem chegou a
completar um ano letivo, pois só podia frequentar a escola uma vez por
semana, quando levava os irmãos mais novos e ficava esperando, aprendia o que podia, em casa com os irmãos, que eram matriculados na escola, ela mesma não
tinha autorização do pai ou da mãe para estudar, por que como irmã mais velha, tinha que ajudar na roça
e em casa. Quando podia ir à escola, na verdade, ia à casa de uma professora,
que dava aulas de graça para essas crianças e era essa a escola da comunidade. Nessa casa, a sala de aula tinha
vários bancos de madeira, e enormes mesas onde as crianças sentavam ao redor. Usavam
cartilhas, livros e revistas como fonte
de pesquisa e o método de memorização e repetição para aprender o abecedário e
a tabuada. A professora utilizava de castigos físicos como: palmatorias e joelhos no milho, para as crianças, que ela considerava levadas, os alunos e pais achavam certo esse tratamento, para se educar, e os próprios pais reforçam esse meio em casa. Muitas
vezes era a filha da professora, que mesmo sendo mais nova que a maioria das
crianças, dava aula. As melhores lembranças que tem sobre esse tempo, eram as
brincadeiras de roda, e a merenda que a
professora distribuía: "Mesmo sendo simples, era deliciosa" - disse ela. Gostava muito de ir à escola, pois queria
aprender, mas a vida continuou e a ideia se foi.
Pense comigo: como essa professorinha mudou a vida dessas crianças? Como replicamos conceitos machista? Qual o tamanho da desigualdade?
Pulando
uns 20 anos pro futuro, temos a história do Rony Cordeiro da Silva,
paulista, 30 anos. Iniciou a primeira série com 7 anos, fez dois anos de pré-escola ( normal para a época).
Cotou que a sala era organizada em fileiras, onde os alunos podiam sentar onde
queriam, os professores que trocavam de sala no final de cada aula, o prédio
era organizado e limpo, as salas ficavam no primeiro andar, o pátio no térreo e
a quadra do lado de fora, não tinha biblioteca e em laboratório no prédio. Alguns
professores ensinavam de forma rigorosa
e firme, outros por sua vez, de forma livre e espontânea – a maioria
desses professores( não tradicionais, mas sim liberais), tinham problemas para controlar a sala, e os alunos. Não tinha castigos
físicos, havia as suspensões e advertências.
As atividade físicas, era ministrada apenas pela disciplina de educação física era limitada ao futebol: “ Ou se jogava futebol ou se jogava futebol”
- disse. Não ficavam repetidos e memorizando todos os fatos históricos, ou
datas, mas tinham que memorizar e repetir varias vezes as tabuadas. Adorava o campeonato de matemática, de modo que
participou anos seguidos. Naquela época,
se repetia de ano caso você ao tivesse nota suficiente para passar, caso
deixasse de fazer as provas finais, ou tivesse um número grande de falta, não
se passava pelo conselho, simplesmente repetia a serie. “ Se tivesse a chance de mudar a estrutura da escola eu acrescentaria a
biblioteca, o laboratório de química, por que assim teríamos mais chance de
praticar a leitura e os projetos de química, que nunca fizemos, pois o colégio
não tinha espaço para o laboratório. Hoje em dia eu tiraria essa norma que diz, ser possível o
aluno passar direto, para o próximo nível,
mesmo sem ter aprendido. Não acho isso correto” - contou.
Quais as mudanças que observamos aqui? Houve melhorias?
Com
esses três relatos, podemos analisar como o currículo e a estrutura escolar se modificou
com os anos, tornando mais fácil a aprendizagem e desenvolvimento dos jovens estudantes
e criando novos cidadãos. Vemos que o modo tradicional e rigoroso onde ,o
professor é autoridade máxima em sala de aula, foi por muito tempo utilizado, vemos também que o conceito de
prédio escolar, escola fixa, escola física é muito atual, com menos de 30 anos.
Percebemos uma mudança significativa no currículo e a prática acadêmica. A
metodologia e sua aplicação foram modificadas para melhor atender as necessidade
dos alunos e dos mestres, permitindo que esse tivessem liberdade para se
expressar como queriam em sala de aula,
trazer suas experiências e compartilha-las entre si. Vemos a modificação da escola, e o que era a
escola para muitos antigamente, e o que é escola hoje em dia. Podemos perceber
que já não é difícil frequentar uma escola, pois elas são espalhadas em todos
os cantos e de fácil acesso Uma transformação de mentalidade aconteceu, onde
hoje não se imagina uma criança que não vá a escola. Vemos a introdução da
divisão acadêmica em pré-escola, fundamental I e II e ensino médio.
Com
isso esclarecido e analisado, me surgiu a dúvida de como é a escola hoje em
dia? Como atuam os professores e qual o currículo aplicado? Quais mudanças
foram geradas? Por esse motivo estendi o alcance do exercício proposto e
entrevistei mais duas pessoas. Me dispôs a entrevistar um adolescente e uma criança,
que ainda frequentam a escola e esses
que possuem um realidade educacional, estruturada, renovada, e não tradicional,
tecnológica, são os que reclamam da escola, e alegam não gostar da mesma. Isso me assombra, pois o que será do futuro?
O que será do país? E como, serão esses novos cidadãos? Porém, vamos ao relato,
para que talvez você, leitor, possa em fim me explicar o que acontece
atualmente.
Milena
Cristina Gomes, Paulista, 15 anos, está
cursado o 2º grau do ensino médio, diz não gostar da organização da escola, do
prédio, e da divisão em fileiras da classe, que não gostou das mudanças físicas
(reformas) ocorridas na escola, que a transformou em um lugar feio e chato. Diz
que não mudaria nada na escola e que não
sabe dizer o porque não gosta da escola, ou de ir a escola. Alega que de fato os
alunos precisam mudar, pois são eles que fazem a diferença dentro da escola,
mas não exemplifica o que é preciso mudar nos alunos. Contou que os professores
são ótimos e não tem nada para reclamar dos mesmos. E finalizou a entrevista sem nem por e em
acrescentar.
Porque para essa adolecente, a escola enfileirada é chato? Como ela imagina a escola ideal? Será que ela conhece como eram as versões anteriores a que ela tem acesso? Como podemos abraçar esta jovem para que ela nao abandone a escola?
Sthephannye Sabrina Martins Reis,Paulista,
8 aos cursa a 3ª serie ensino fundamental I, alega não gostar da escola, diz
que a professora é chata, briga de mais,
grita na sala. E isso ela não gosta. "A escola
é mais ou menos legal, existem aulas legais, mas as regras são chatas como: não
pode correr no recreio, não conversar na sala – nem mesmo sobre a matéria." - confessou. Eu pude conhecer a escola em questão e a organização da escola é boa, na sala de aula
tem tv, ventilador, lousa, armários
e até algumas pinturas e quadros, brinquedoteca, biblioteca, sala de compuração. “Mudaria na escola: mudaria
o fato de não poder falar quando não tem
nada para fazer, e deixaria as aulas mais divertidas com assuntos do meu
interesse, por exemplo: Barbie, Frozen etc. Ate aqui tenho ótima lembranças, fiz vários amigos, e lições divertidas, mas não tem mais lições divertida agora".
Agora note, como uma criança possui sim opinião, e mesmo com tantos recursos, alega que a escola é chata, que a professora é chata. Como podemos nos hoje, professores, educadores, mudar a escola?
Será
que a nostalgia transforma as lembranças ruins em boas? Ou o fato de não ser
fácil ir a escola antigamente, ou ter o privilégio
de aprender para as pessoas mais velhas, valia mais? Meras complicações eram esquecida só pelo fato poder aprender algo novo? O que tantas mudanças boas geraram? O que
tanta luta por uma educação de qualidade, gratuita causou? Qual é a mentalidade
dos jovens e crianças hoje em dia? Sinto
dizer, que foram muitas mudanças, mas essas não estão refletindo positivamente
nos jovens, pois como um jovem de 15 anos, não gosta da escola? Não quer
frequentar a escola? E pior ainda como uma criança de 8 anos não gosta de
escola? Não quer frequenta-la? O que está errado? O que devemos mudar? O que ainda não aconteceu para que a evasão
diminuísse, depois de tantos anos, porque ainda abandonam os estudos? O que
deixa a sala de aula chata, o que torna um professor “burro”, "chato", "bravo"? O que [...]?
Sinceramente não sei, e depois desse exercício proposto, fico refletindo sobre
a história da educação, e pensando em
como se modificou a proposta pedagógica, mas que ainda estamos longe de transformar a escola em algo atrativo, a realidade é dura, a escola mudou, mas não acompanhou os tempos e os alunos que também mudaram.
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